Você já parou para pensar por que tantas vezes falamos em “fazer terapia” e evitamos a palavra “psicoterapia”?
Por trás dessa troca aparentemente inofensiva, esconde-se uma história profunda sobre o estigma que ainda paira sobre a saúde mental.
No nosso novo artigo, “O Estigma da Saúde Mental e a Evasão do Termo ‘Psicoterapia” no Discurso Social’, mergulhamos no fascinante mundo da linguagem para desvendar como as palavras que usamos moldam a nossa perceção e perpetuam preconceitos.
Descubra connosco as raízes desse medo do uso do termo “psicoterapia”, as suas surpreendentes implicações na nossa sociedade e como podemos começar a usar as palavras para construir um futuro mais aberto e acolhedor para a saúde mental de todos.

Prepare-se para uma leitura que vai fazer-te repensar como falamos – e pensamos – sobre cuidar da mente!

O artigo: O Estigma da Saúde Mental e a Evasão do Termo “Psicoterapia” no Discurso Social: Uma Análise Psicossocial e Linguística.

Autora: Ana Cristina de Sousa Veras (Citar como: SousaVeras. A. C.)


Resumo

A despeito dos avanços no debate público, a saúde mental persiste como um domínio permeado por um estigma social arraigado no século XXI. Uma manifestação insidiosa desse fenômeno reside na evitação sistemática do termo técnico “psicoterapia” no discurso social, frequentemente substituído pela generalização “terapia”. Este artigo empreende uma análise crítica das implicações semânticas e psicossociais dessa substituição linguística, argumentando que ela não apenas reflete o medo da associação direta com a psicopatologia, mas também contribui ativamente para a marginalização das práticas psicológicas formais e baseadas em evidências. Fundamentando-se em referenciais teóricos da psicologia social, da análise crítica do discurso e da sociolinguística, a discussão demonstra como as escolhas lexicais revelam e perpetuam relações de poder, preconceitos e a invisibilização de saberes científicos essenciais para a promoção da saúde integral. A conclusão enfatiza que o apagamento terminológico da psicoterapia não configura um ato neutro, mas um sintoma do estigma, com repercussões significativas na busca por cuidados psicológicos qualificados e na efetivação do direito à saúde mental.

Palavras-chave: Saúde Mental; Estigma Social; Psicoterapia; Linguagem; Discurso; Psicologia Social; Análise Crítica do Discurso.

Introdução

A crescente atenção midiática e social dedicada à saúde mental no século XXI representa um avanço significativo. Contudo, observa-se que essa visibilidade, por vezes, não se traduz em uma compreensão aprofundada e desestigmatizada do tema. A familiarização superficial com termos como “depressão”, “ansiedade” e “autoestima” no vocabulário leigo coexiste com a persistência de atitudes e crenças subjacentes que revelam um desconforto social em relação ao sofrimento psíquico e suas formas de tratamento.
Nesse contexto, a linguagem emerge como um artefacto cultural crucial para a análise das dinâmicas psicossociais em jogo. Especificamente, a tendência de evitar o termo técnico “psicoterapia”, substituindo-o pela forma mais genérica e semanticamente ambígua “terapia”, sugere a manutenção de um estigma associado ao tratamento psicológico formal. Essa aversão terminológica pode ser interpretada como um eco do estigma historicamente vinculado à “loucura”, à vulnerabilidade emocional e à busca por auxílio profissional especializado.
O presente artigo propõe-se a analisar criticamente essa substituição linguística, explorando suas raízes psicossociais e suas implicações na perpetuação do estigma da saúde mental e na efetivação do acesso a cuidados psicológicos adequados e baseados em evidências científicas.

Estado da Arte: O Estigma da Saúde Mental e a Linguagem como Vetor.

No âmbito do estado da arte, é crucial reconhecer a crescente banalização de termos relacionados à saúde mental, intensificada pela ampla disseminação de conteúdo nas redes sociais. Observa-se uma utilização superficial e, por vezes, inadequada de conceitos como “ansiedade”, “depressão” e “ataque de pânico” em postagens e discussões online, frequentemente descontextualizados e desprovidos da profundidade clínica que exigem (Albrecht, 2019). Embora essa tendência possa contribuir para uma maior abertura sobre o tema, paradoxalmente, pode esvaziar o significado de condições sérias e dificultar a distinção entre experiências quotidianas de sofrimento emocional e transtornos mentais diagnosticáveis, impactando a busca por ajuda especializada e a percepção da gravidade de certas condições.

A literatura em psicologia social tem dedicado considerável atenção ao fenômeno do estigma em relação à saúde mental. Goffman (1988) seminalmente definiu estigma como um atributo depreciativo que desqualifica a identidade social de um indivíduo, transformando-o de uma pessoa completa em alguém marginalizado. No campo da saúde mental, esse processo é particularmente complexo, envolvendo representações sociais negativas que associam o sofrimento psíquico a fraqueza, periculosidade ou incapacidade (Corrigan & Watson, 2002).

Estudos demonstram que o estigma internalizado e o estigma público atuam como barreiras significativas para a busca e adesão ao tratamento em saúde mental (Corrigan, 2004). O medo da discriminação, do julgamento e da rotulação negativa leva muitos indivíduos a evitar a identificação e a discussão aberta sobre suas dificuldades, perpetuando um ciclo de isolamento e sofrimento.

A linguagem, nesse contexto, não é um mero reflexo passivo da realidade social, mas um vetor ativo na construção e reprodução do estigma. A análise crítica do discurso (Fairclough, 2001) e a sociolinguística (Austin, 1990) oferecem ferramentas conceituais para compreender como as escolhas lexicais e as práticas discursivas moldam as percepções sociais e as relações de poder. A forma como nos referimos a fenômenos como a psicoterapia pode, portanto, contribuir para a sua legitimação ou para a sua marginalização.

A perspectiva histórica de Foucault (1972) sobre a “História da Loucura” também ilumina as raízes profundas do estigma, mostrando como a exclusão e a medicalização do sofrimento psíquico foram construídas discursivamente ao longo do tempo. A persistência de associações negativas entre a psicoterapia e o conceito de “doença mental grave” reflete essa herança histórica.

Metodologia

A metodologia deste artigo consistiu em uma pesquisa teórico-analítica qualitativa, centrada na análise crítica do discurso (ACD) de Fairclough (2001). A ACD foi complementada por referenciais da psicologia social (Goffman, Corrigan & Watson), da sociolinguística (Austin, Bourdieu) e da história social da saúde mental (Foucault) para investigar as implicações psicossociais e linguísticas da evitação do termo “psicoterapia” no discurso social sobre saúde mental. 

A coleta de dados envolveu a observação e análise interpretativa de discursos sociais em diversos contextos, incluindo a análise de postagens em redes sociais como Twitter (X), Instagram, Facebook e fóruns online. A busca por expressões como “estou fazendo terapia para lidar com o estresse” ou “precisava de terapia depois do divórcio” revelou a predominância do uso do termo genérico “terapia” em contextos onde se subentende o acompanhamento psicológico. O objetivo não foi quantificar a frequência da substituição, mas sim compreender o seu significado simbólico e as suas implicações para a perpetuação do estigma, relacionando os padrões discursivos identificados com os constructos teóricos das áreas mencionadas. 

Em suma, a metodologia combinou a ACD com a revisão e integração de literatura teórica relevante e a observação do discurso online para aprofundar a compreensão da evitação da palavra “psicoterapia” como manifestação do estigma.

Resultados: Análise Psicossocial e Linguística do Evitar Terminológico no Discurso Social e Online.

A análise da linguagem utilizada no discurso social e, de forma marcante, em plataformas online como Twitter, Instagram e Facebook, revela uma tendência significativa à substituição do termo técnico “psicoterapia” pela forma mais genérica “terapia”. A abundância de postagens como as exemplificadas abaixo ilustra a predominância desse uso no vocabulário público ao se referir a processos de acompanhamento em saúde mental:

  • Instagram: 

Em stories com legendas como “Dia de autocuidado ✨ #terapia” (frequentemente acompanhados de fotos em ambientes que remetem a consultórios ou momentos de introspecção). 

Comentários em posts sobre saúde mental: “Concordo totalmente! A terapia me ajudou muito com isso.”

Publicações textuais: “Se você está passando por um momento difícil, não hesite em buscar terapia. Faz toda a diferença.”

  • Twitter (X):

“Essa semana está puxada, ainda bem que tenho terapia amanhã pra botar tudo pra fora.” (#ansiedade #terapia)

“Comecei a fazer terapia e já sinto uma diferença enorme na forma como lido com meus gatilhos.”

“Alguém mais se sente exausto depois da terapia?”

“A melhor coisa que fiz por mim foi começar a terapia.”

  • Facebook:

Em grupos de apoio: “Alguém tem indicações de um bom terapeuta online?”

Em posts pessoais: “Finalmente tomei coragem e marquei minha primeira sessão de terapia.”

Compartilhamento de artigos sobre saúde mental com comentários como: “Essa matéria fala muito sobre os benefícios da terapia.”

  • Fóruns Online (Reddit, etc.):

Tópicos como “Experiências de vocês com terapia?”

Perguntas sobre como encontrar um “bom terapeuta”.

Discussões sobre diferentes abordagens de “terapia” para lidar com problemas específicos.

A vasta quantidade de postagens, como as exemplificadas acima, demonstra de forma inequívoca a predominância do uso do termo “terapia” como um substituto para “psicoterapia” no discurso público online. Essa observação empírica, mesmo que informal, oferece uma justificativa robusta para a relevância dessa análise, uma vez que a linguagem utilizada no discurso social revela uma tendência significativa à substituição do termo técnico “psicoterapia” pela forma mais genérica “terapia”. Essa substituição, embora possa parecer superficial, possui implicações psicossociais relevantes:

Atenuação do peso simbólico: A escolha de “terapia” pode ser interpretada como uma tentativa inconsciente de reduzir o impacto negativo associado à ideia de “tratamento para problemas mentais”. O termo mais amplo dilui a especificidade da intervenção psicológica e a sua ligação com a psicopatologia.
Mecanismo de defesa individual e social: Ao evitar o termo “psicoterapia”, indivíduos podem buscar proteger-se do estigma internalizado e do potencial julgamento social. Coletivamente, essa evitação contribui para a manutenção de um discurso que distancia o sofrimento psíquico do cuidado formal e especializado.
Invisibilização da prática científica: A psicoterapia, enquanto prática clínica fundamentada em teorias psicológicas e metodologias científicas (Cunha, 2017; Bock et al., 2001), perde sua especificidade ao ser englobada pelo termo genérico “terapia”, que pode incluir práticas sem respaldo científico comprovado.
Reforço da dicotomia “normal” vs. “anormal”: A aversão ao termo “psicoterapia” pode refletir o desejo de manter uma identidade socialmente aceitável, evitando a associação com a suposta “anormalidade” que a busca por tratamento psicológico ainda pode evocar no imaginário social (Bourdieu, 2001).
Implicações para o acesso e a literacia em saúde mental: A falta de clareza terminológica dificulta a compreensão pública sobre a natureza, os benefícios e os direitos relacionados ao acesso à psicoterapia como um componente essencial da saúde integral (BRASIL, 2011).
A análise crítica do discurso (Fairclough, 2001) demonstra que essa preferência lexical não é neutra, mas contribui para a manutenção de estruturas de poder e ideologias que marginalizam a saúde mental. Ao diluir o termo “psicoterapia”, enfraquece-se o reconhecimento da psicologia como ciência da saúde e do psicólogo como profissional essencial nesse campo.

Discussão

Os resultados desta análise ecoam e expandem as discussões existentes sobre o estigma da saúde mental e o papel da linguagem na sua perpetuação. A evitação do termo “psicoterapia” como um marcador de potencial sofrimento psíquico alinha-se com a teoria da rotulação (Becker, 2008), que argumenta como a atribuição de rótulos sociais pode levar à internalização dessas identidades e à exclusão social. Ao evitar o termo específico, os indivíduos buscam evitar o rótulo de “doente mental” e as consequências negativas associadas.

Ademais, a preferência por “terapia” pode ser vista através da lente da teoria da apresentação do eu (Goffman, 1959), onde os indivíduos gerem as impressões que causam nos outros. Utilizar um termo mais vago e aceitável socialmente como “terapia” permite uma apresentação de si menos vulnerável e mais alinhada com as normas sociais de saúde e bem-estar.

A análise do discurso, complementada pela perspectiva da sociolinguística interacional (Gumperz, 1982), sugere que a comunicação não se limita ao conteúdo literal das palavras, mas também envolve pistas contextuais e inferências sociais. A omissão de “psico” no termo “terapia” pode ser interpretada como uma tentativa de minimizar a natureza psicológica do tratamento, tornando-o mais palatável e menos ameaçador para o interlocutor e para o próprio indivíduo.

Outras pesquisas também corroboram a influência da linguagem na percepção da saúde mental. Wahl (1999), em seu trabalho sobre as consequências do estigma, destaca como a terminologia utilizada pela mídia e pelo público em geral pode reforçar estereótipos negativos e contribuir para a discriminação. A ambiguidade criada pela substituição de “psicoterapia” por “terapia” pode, inadvertidamente, alimentar essa desinformação e dificultar a compreensão da natureza específica e dos benefícios do tratamento psicológico.

A perspectiva da psicologia social das atitudes (Petty & Cacioppo, 1986) também pode ser aplicada, sugerindo que a familiaridade e a menor carga emocional associada ao termo “terapia” podem levar a uma aceitação mais fácil em comparação com o termo “psicoterapia”, que pode evocar associações negativas pré-existentes.

De uma perspectiva psicanalítica, a sistemática evitação do termo “psicoterapia” no discurso social revela camadas complexas de resistência psíquica. Ecoando o mecanismo de defesa da negação, postulado por Sigmund Freud (Freud 1925), a substituição da especificidade de um tratamento focado na psique pelo genérico “terapia” sugere uma recusa inconsciente da profundidade e da natureza intrinsecamente psicológica do sofrimento e da intervenção necessária. Essa esquiva linguística atua como uma barreira contra a plena aceitação da vulnerabilidade emocional e da necessidade de um olhar especializado para o mundo interno, protegendo o indivíduo e a sociedade do desconforto associado ao estigma da saúde mental, explicitamente evocado pelo termo “psicoterapia”. Assim, a negação, operando no plano discursivo, contribui para a manutenção de uma distância segura em relação a um domínio ainda carregado de preconceitos.

Adicionalmente, a teoria psicanalítica de Jacques Lacan oferece outra lente para compreender essa evitação. Para Lacan (LACAN, 1998), o inconsciente se estrutura como linguagem, e a nomeação das experiências psíquicas molda nossa relação com elas. A substituição de “psicoterapia” por “terapia” pode ser interpretada como uma tentativa de velar o Real do sofrimento psíquico – aquilo que resiste à plena simbolização e que pode ser profundamente perturbador. Ao evitar o termo específico, o sujeito e o discurso social buscam manter uma distância desse núcleo de angústia e da confrontação com a falta inerente à condição humana, preferindo um significante mais palatável e menos carregado de associações com a “loucura” ou a “doença mental”. Essa evitação, portanto, não apenas reflete o estigma, mas também opera no campo simbólico como uma forma de defesa contra o reconhecimento da dimensão mais radical do sofrimento psíquico que a “psicoterapia” inevitavelmente evoca.

Conclusão

A evitação do termo “psicoterapia” no discurso social, substituído pela generalização “terapia”, configura-se como uma manifestação sutil, porém significativa, da persistência do estigma em torno da saúde mental. Essa análise psicossocial e linguística demonstra que essa escolha lexical não é um mero acaso, mas reflete um complexo conjunto de medos, preconceitos e mecanismos de defesa individuais e coletivos.
O “apagamento” terminológico da psicoterapia possui implicações concretas, contribuindo para a invisibilização da prática clínica baseada em evidências, dificultando a literacia em saúde mental e perpetuando o ciclo de estigma e exclusão. A ambiguidade semântica criada pela substituição impede o reconhecimento da psicoterapia como um cuidado especializado e essencial para o bem-estar psicossocial.

Considerações Finais

A superação do estigma da saúde mental exige uma abordagem multifacetada, que inclui a desmistificação do sofrimento psíquico, a promoção da literacia em saúde mental e a valorização das práticas psicológicas baseadas em evidências. Nesse contexto, a linguagem desempenha um papel crucial.
Incentivar o uso consciente e preciso do termo “psicoterapia” é um passo fundamental para desafiar o preconceito e afirmar o direito à saúde mental. Profissionais da saúde, educadores, comunicadores e a sociedade em geral devem promover um discurso que reconheça a psicoterapia como uma forma legítima e eficaz de cuidado, desvinculando-a de associações negativas e promovendo a sua compreensão como um recurso valioso para a promoção do bem-estar e a qualidade de vida.
A mudança na linguagem pode catalisar uma transformação cultural mais ampla, contribuindo para a construção de uma sociedade mais informada, acolhedora e equitativa em relação à saúde mental.

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Nota do ASousaVeras.com.br

A presente análise teórico-crítica oferece uma perspectiva inicial sobre a significativa evitação do termo “psicoterapia” no discurso social, sinalizando sua intrínseca ligação com o persistente estigma em torno da saúde mental. Reconhecemos, contudo, que esta investigação apenas tangencia a complexidade do fenômeno. Urge a necessidade de estudos empíricos mais aprofundados, capazes de quantificar a prevalência e mapear os contextos específicos dessa substituição terminológica em diversas camadas da sociedade e plataformas comunicacionais. Pesquisas futuras poderão desvelar as motivações subjacentes a essa prática discursiva e seus reais impactos na busca por cuidados em saúde mental.

Nesse sentido, convidamos veementemente instituições de pesquisa, agências de fomento e investidores visionários, comprometidos com a promoção da saúde mental e a desmistificação do sofrimento psíquico, a unirem esforços e apoiarem o desenvolvimento de projetos de pesquisa que deem continuidade a esta linha de investigação.

O investimento em estudos rigorosos e multidisciplinares é crucial para alicerçar estratégias de comunicação mais eficazes, informar políticas públicas sensíveis e, em última instância, construir uma sociedade mais esclarecida, empática e equitativa em relação às necessidades de saúde mental de todos os seus membros. Acreditamos que, juntos, podemos transformar a linguagem e, consequentemente, a percepção e o acesso ao cuidado em saúde mental.