Autor: Sílvio Diniz de Lourenço Junior.(Como Citar: Lourenço Junior. S.D.)
A intersecção entre as alterações climáticas e a pobreza energética representa uma crise silenciosa de proporções globais, exigindo uma análise aprofundada e uma ação coordenada, pois a intrincada relação entre estes dois fenómenos não se limita a exacerbar as vulnerabilidades existentes, mas também a comprometer a nossa capacidade de construir um futuro sustentável e equitativo.
As alterações climáticas, com os seus eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, aumentam a procura por energia para arrefecimento e aquecimento, pressionando orçamentos já limitados (IPCC, 2021). O ‘stress’ hídrico, exacerbado pelas ondas de calor, afeta a produção de energia hidrelétrica e o arrefecimento de centrais térmicas, criando um ciclo vicioso que agrava a pobreza energética. A infraestrutura energética, vulnerável as tempestades e inundações, sofre interrupções no fornecimento, elevando os custos e a insegurança energética.
Por outro lado, a pobreza energética, caracterizada pela dependência de combustíveis fósseis poluentes e ineficientes, contribui para as emissões de gases de efeito estufa e dificulta a adoção de tecnologias limpas (IEA, 2022). A falta de recursos financeiros e de acesso à informação impede a transição para um futuro de baixo carbono, perpetuando um ciclo vicioso.
Os impactos combinados das alterações climáticas e da pobreza energética atingem desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. Países em desenvolvimento, comunidades de baixa renda, populações rurais e isoladas, idosos, crianças e agregados familiares chefiados por mulheres são os mais afetados. A falta de infraestrutura resiliente, a dependência de setores sensíveis ao clima e a menor capacidade de adaptação tornam-nos especialmente suscetíveis.
A superação desta crise exige uma abordagem integrada e multidisciplinar. Considerando a expansão do acesso a energias limpas e acessíveis, a melhoria da eficiência energética em habitações de baixa renda, a implementação de tarifas de energia progressivas e a integração da adaptação climática em políticas energéticas são medidas cruciais. Além disso, programas de educação e sensibilização são essenciais para promover a adoção de comportamentos e tecnologias sustentáveis.
Para se ter justiça no processo de transição climática faz-se necessário que os custos sejam distribuídos equitativamente, com o intuito de proteger os mais vulneráveis. O investimento em infraestruturas resilientes e descentralizadas, como redes de energia renovável de pequena escala, pode aumentar a segurança energética e reduzir a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos. Programas de transferência de renda e tarifas sociais podem ajudar as famílias de baixa renda a pagar as suas contas de energia e a investir em medidas de eficiência energética. Porém, é necessário que os programas de transferência de renda não sejam somente uma ajuda financeira, mas também um programa de acompanhamento para que as famílias consigam ter independência energética.
A crise silenciosa das alterações climáticas e da pobreza energética exige uma ação urgente e coordenada. A sua resolução exige uma abordagem integrada que reconheça a interligação entre estes dois desafios e que priorize uma justiça climática. Ao investir em soluções energéticas sustentáveis e equitativas, podemos construir um futuro mais resiliente e próspero para todos.
Referências
- Boardman, B. (1991). Fuel poverty: From cold homes to affordable warmth. Belhaven Press.
- Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). (2021). Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment 1Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Masson-Delmotte, V., Zhai, P., Pirani, A., Connors, S. L., Péan, C., Berger, S., Caud, N., Chen, Y., Goldfarb, L., Gomis, M. 2I., Hirabayashi, Y., Ho, J. J., Knox, J. W., Mach, K. J., Marotzke, J., Narasimha Rao, E., Rostami, P., Shin, K.-H., Shukla, P. R., Tabeau, A., & Zhou, B. (eds.)]. Cambridge University Press.
- www.intereconomics.eu
- www.nps.gov
- International Energy Agency (IEA). (2022). Energy Poverty: How to make clean cooking and electricity access universal. IEA Publications.